Desmistificando a Cannabis medicinal: entenda a ciência por trás do CBD

O uso da Cannabis medicinal ainda é marcado por uma série de estigmas — sociais, religiosos e mesmo legais. No entanto, o potencial terapêutico de seus compostos, como o Canabidiol (CBD), já foi comprovado em diferentes estudos e ajuda no…

O uso da Cannabis medicinal ainda é marcado por uma série de estigmas — sociais, religiosos e mesmo legais. No entanto, o potencial terapêutico de seus compostos, como o Canabidiol (CBD), já foi comprovado em diferentes estudos e ajuda no tratamento das mais diversas condições de saúde.

Para pacientes que consideram essa terapia no manejo de doenças crônicas, no entanto, é imperativo que a discussão seja conduzida com base em fatos científicos e evidências clínicas.

Uma importante distinção: CBD e THC

A principal fonte de confusão sobre o uso da Cannabis medicinal reside na diferença entre os dois canabinoides mais estudados na planta: o CBD e o Tetra-hidrocanabinol (THC).

  • Canabidiol (CBD): É o componente de maior relevância na clínica médica atual. O CBD é um composto não psicoativo, o que significa que seu uso não induz euforia ou alterações cognitivas. Suas propriedades são amplamente reconhecidas pela literatura científica, destacando-se as ações anti-inflamatórias, ansiolíticas e anticonvulsivantes.
  • Tetra-hidrocanabinol (Δ9-THC): É o canabinoide responsável pelo efeito psicoativo. Embora seja o foco do uso recreativo, o THC também possui aplicações medicinais, particularmente no controle de náuseas e vômitos associados à quimioterapia e no manejo de dores crônicas refratárias.

Em contextos terapêuticos, muitos produtos são formulados para ter alta concentração de CBD e um teor controlado ou nulo de THC, garantindo a eficácia sem o risco de intoxicação.

E qual a diferença entre a Cannabis medicinal e a recreativa?

O uso recreativo de compostos da planta Cannabis sativa não é permitido no Brasil e costuma ter altas doses de THC, o que intensifica o efeito psicoativo da planta e pode gerar efeitos colaterais mais graves. 

No entanto, esse uso em nada se parece com o uso medicinal da Cannabis, que é controlado e regulamentado por agências como a Anvisa. Nesse sentido, ainda que um produto de Cannabis medicinal tenha pequenas doses de THC, ele será seguro para consumo e não causará as sensações de lentidão, euforia ou alteração comumente associadas ao uso irrestrito dessas substâncias.

Por que a Cannabis medicinal tem um efeito diferente de outros medicamentos?

O fundamento científico para a ação da Cannabis medicinal reside em sua interação com o Sistema Endocanabinoide (SEC), uma rede complexa e vital para o equilíbrio do organismo.

O SEC é um sistema regulador presente no corpo humano, atuando na modulação de diversas funções fisiológicas, incluindo a percepção da dor, o humor, o ciclo do sono, a resposta imunológica e a inflamação. Este sistema é composto por:

  • Receptores Canabinoides (CB1​ e CB2​).
  • Endocanabinoides (produzidos pelo próprio organismo).
  • Enzimas responsáveis por sua síntese e degradação.

Os fitocanabinoides, como o CBD e o THC, atuam como moduladores desse sistema, restabelecendo ou corrigindo desequilíbrios observados em diversas patologias.

E os efeitos adversos, quais são?

O CBD é geralmente bem tolerado. Os efeitos adversos da Cannabis medicinal incluem fadiga, sonolência, alterações gastrointestinais e na função hepática (elevação de enzimas). Além disso, não costumam afetar negativamente a qualidade de vida do paciente.

O mesmo vale para a interação medicamentosa da Cannabis com outros medicamentos. Embora seja fundamental a supervisão médica — devido ao risco de interação com fármacos como anticoagulantes e alguns anticonvulsivantes —, é incomum que a Cannabis medicinal cause interações medicamentosas perigosas.

Quais são as aplicações terapêuticas comprovadas da Cannabis medicinal?

O uso da Cannabis Medicinal deve ser pautado por pesquisas robustas. As evidências mais consistentes e aceitas globalmente incluem:

Condição de saúdeEvidências clínicas
Epilepsia refratáriaEstudos clínicos e revisões sistemáticas demonstram que o CBD é eficaz na redução significativa da frequência de crises convulsivas em síndromes como Dravet e Lennox-Gastaut, sendo o uso com maior grau de aprovação regulatória.
Dor crônicaO uso de canabinoides tem demonstrado capacidade analgésica e anti-inflamatória, sendo uma opção para o manejo de dor neuropática e crônica em adultos.
Espasticidade na Esclerose MúltiplaProdutos combinados de CBD e THC auxiliam na redução da rigidez e dos espasmos musculares associados à doença.
AnsiedadeO CBD tem apresentado potencial como ansiolítico. Porém, pode ser necessário o ajuste da dose a longo prazo.

A Cannabis medicinal é permitida no Brasil? Como é feita a regulamentação?

Sim, o uso terapêutico de produtos à base de Cannabis é permitido no Brasil desde a divulgação da RDC 327. Além disso, esses produtos passam por uma rigorosa inspeção de órgãos reguladores, como a Anvisa, antes de receberem a liberação para venda e consumo em farmácias. 

Importa pontuar, ainda, que, apesar de seu perfil de segurança favorável, o tratamento com Cannabis também exige rigor e acompanhamento médico.

Se é seguro, posso usar produtos à base de Cannabis por conta própria?

Não. A Cannabis Medicinal é um tratamento, não um suplemento, e por isso o seu uso deve ser avaliado e recomendado por um profissional que conheça o seu histórico de saúde. 

A supervisão médica é obrigatória não apenas pela legalidade (uma vez que a receita é indispensável para a compra dos produtos à base de Cannabis), mas pela segurança clínica e pela eficácia do seu tratamento de longo prazo. 

Por isso, lembre-se: o caminho mais seguro e responsável é sempre buscar a orientação de um profissional de saúde antes de iniciar qualquer terapia com canabinoides.

Para saber mais, entenda o que esperar do tratamento com a Cannabis medicinal.

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